Jejum: disciplinando os apetites e se alimentando da Palavra

Jejum: disciplinando os apetites e se alimentando da Palavra

Por Vanessa Belmonte

“...quem se alimenta de mim viverá por minha causa. Eu sou o verdadeiro pão..." João 6:57-58

Temos várias opções de "comida" diante de nós, mas nem todas satisfazem. Consumimos muitas coisas hoje em dia que não geram vida. Estamos tão cheios que não temos espaço (nem apetite) para as Palavras de Jesus.

Ao jejuarmos, declaramos para nós mesmos que nosso deus não é nosso estômago, isto é, que nossos desejos e vontades tão ferozes podem esperar. Afinal, muitos "não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites” (Rm 16.18). 

Enquanto nos preocuparmos tanto com a gratificação do apetite, continuaremos sem conseguir preencher o vazio emocional e existencial. Ao tentarmos engolir o mundo, continuaremos com fome de vida.

O jejum nos ensina a nos abster da comida para nos alimentarmos da Palavra de Deus e a disciplinarmos nossa vontade para obedecê-lo.

O jejum é apenas de comida? Ou pode ser de outras coisas?

Em linhas gerais, algumas pessoas tendem a identificar o jejum como a abstenção de comida ou bebida e generalizam isso para a abstenção de outras coisas (de celular, redes sociais, hábitos diversos).

De fato, você pode se abster de hábitos bons pra focar em algo que deseja alcançar, por exemplo, para estudar para uma prova, passar em um concurso... E você pode se abster de hábitos ruins que são vícios, que você já sabe que te fazem mal. Se esse é o seu caso, faça isso. 

Mas o propósito de jejum é diferente. O jejum de comida tem realmente um alcance diferente em nosso desenvolvimento espiritual (tratado a fundo no livro Permaneçam em mim, da box Disciplinas Espirituais e a vida com Deus). A ideia é que você se abstenha da comida (algo tão fundamental e primário em nossas necessidades) para se alimentar da Palavra de Deus. 

Quando e por quanto tempo jejuar?

Primeiramente, você deve jejuar quando o Espírito Santo te orientar a fazê-lo e quando o propósito do jejum for claro para você. Essa disciplina pode ter propósitos muito diferentes:

  • pode estar ligado às atitudes de lamento, quando você está passando por um grande sofrimento;
  • contrição ou arrependimento diante de Deus;
  • situações específicas de muita angústia para ficar mais sensível à vontade do Senhor;
  • quando você precisa tomar uma decisão importante e discernir algo que ainda não sabe;
  • ou para enfrentar um confronto, uma batalha mais direta.

Seja qual for a razão, a prática do jejum precisa estar ligada a um propósito espiritual no qual nós concentramos nossa atenção ao nos abster da comida e buscar ao Senhor tendo aquilo em mente. Não se trata de pura e simplesmente ficar sem comer.

O jejum não pode ser realizado isolado como um ritual vazio e sem sentido, desvinculado da obediência do Senhor. Ele precisa ser praticado com o serviço e a submissão influenciando diretamente nosso comportamento com as outras pessoas, praticando a compaixão, a generosidade e a justiça em nossas relações. Também está relacionado com as demais disciplinas, especialmente a oração e a meditação na Palavra do Senhor. Por isso também pode incluir a solitude e o silêncio.

Nós jejuamos e meditamos na Palavra de Deus para nos alimentarmos da bondade de Deus revelada em Jesus Cristo. Nos alimentamos da amizade com Jesus e por isso nós somos fortalecidos, encorajados, por Ele. E respondemos a Ele em obediência e fidelidade.

Quanto tempo você vai jejuar depende do momento que está enfrentando, por exemplo, até conseguir ter clareza sobre o discernimento que precisa, até enfrentar essa batalha, até passar por essa provação. 

"E se eu quebrar o jejum?"

Antes de tudo, você precisa entender o porquê está quebrando o jejum. Se você, por exemplo, decidiu fazer um jejum de doces por um mês inteiro, mas certo dia não resistiu e comeu um doce, deve saber que esse não é um jejum espiritual, não é o jejum que a Bíblia ensina. Então você deve entender melhor o que é o jejum.

Se você está fazendo o jejum que a Bíblia ensina, mas de uma maneira negligente, precisa começar a tratar com reverência e seriedade esse compromisso com Deus. Se, mesmo tratando com seriedade, por algum motivo, você não conseguir fazer em algum dia, não tem problema se reorganizar para recomeçar a partir do dia seguinte.

Jejuar não é barganhar com Deus

O perigo que todos nós corremos com a prática de qualquer uma das disciplinas é achar que elas nos dão poder e nos coloca no controle das situações para exigir algo de Deus em troca.

Essa é uma relação idólatra e legalista. É a forma com que os povos pagãos que a Bíblia cita se relacionavam com os ídolos. E não é assim que Deus se relaciona conosco. Deus se entrega completamente por nós. E ele deseja um relacionamento pessoal como nosso pai, o nosso amigo, o que exige confiança, respeito e submissão a Ele.

Nós não praticamos as disciplinas espirituais para conquistar algo. Nós já recebemos —  perdão, salvação, uma nova vida. Por sermos amados, nós praticamos as disciplinas a fim de estar mais sensíveis a esse conhecimento, essa revelação de Deus.

Nosso coração pecador ainda nos arrasta para muitas direções. Nós precisamos nos concentrar na Palavra de Deus porque o nosso apetite é distorcido, e ainda amamos aquilo que nos faz mal. Por isso nós jejuamos, para ficar mais atentos à vontade de Deus e submetermos essas vontades pra Deus. 

Dicas práticas para o jejum

  • Comece com períodos curtos em que você pode se abster de uma refeição principal, uma vez por semana (por exemplo, o jantar);
  • Amplie aos poucos se assim desejar;
  • O ideal é que, durante o jejum, você não saia para trabalhar e se dedique a buscar ao Senhor;
  • Considere necessidades específicas e limitações de saúde como anemia, diabetes, entre outras que precisam de um cuidado específico em relação a alimentação regular;
  • Beba água e outros líquidos durante o jejum.

Este é o nosso desafio: exercitar o jejum para ter fome de Deus e do alimento que Ele tem para nos dar.

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Vanessa Belmonte
 é professora, worker do L’Abri Brasil, coordenadora dos cursos online da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2). Autora do livro "O Lugar da Espera na Vida Cristã". É casada com Glaucio e faz parte da Igreja Esperança em Belo Horizonte, MG.

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